quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Todo dia o rio é outro


O caos. Quantas atividades cabem em alguns milhares de metros quadrados? Todas. Comerciantes sorriem e argumentam com clientes nem sempre abertos às seduções dos produtos oferecidos, gente rica que paga caro pelo que almoça divide mesa com gente menos favorecida. O cheiro de cachaça está no ar. Lá fora, na rua, isso costuma ser mau sinal. Aqui, no entanto, nesse ambiente construído, é grande sinal de sofisticação, por conta de um evento de degustação. Quantos gritos divergentes. Quantas falas compreensíveis. Quantos sussurros por trás de tudo.

Só fora do mercado ouso tentar interpretar o que se passa dentro dele. Alguns amigos sumiram, ou para procurar ideias pelos corredores ou para, nas quinas entre as barracas de frutas e verduras, lapidar as que já têm. O veículo da empresa que transporta valores acaba de ir embora, guiado por homens armados, mas tranquilos, talvez por compreenderem que por mais dinheiro que carreguem no blindado, nunca vão carregar para fora daqui os valores que este ambiente possui. Estes não saem, nem com a gentrificação imposta na parte aparentemente VIP da praça de alimentação. Quantos casais brigam ali agora? Quantos outros se acertam? Quantos e quais homens odeiam as próprias vidas? E quantas mulheres? Quantas pessoas já desceram da rodoviária e procuraram aqui respostas sobre Curitiba? Será que conseguiram o que queriam? Quantas vozes. Quantas vidas. Muito bem.


(Marco Antonio Santos, Mercado Municipal. 05/10/13)

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