Do outro lado do balcão, a louça é lavada
continuamente, as bebidas e os pratos são preparados. Desse, os assuntos variam
de mesa pra mesa. O garçom, elo de comunicação entre um lado e outro, passeia
com maestria conforme o apetite da clientela, sem perder o ritmo. Não, é como
se dançasse. Talvez por isso que, entre eles, chamem o espaço de “salão”. A
discrição de não interromper uma conversa, por mais convidativo que seja o
pedido, requer sensibilidade.
Melhor matar o
tempo com uma piada entre as cozinheiras. Na impossibilidade de tirar aquela,
do sorriso bonito, para dançar, a badeja é a companhia perfeita. E o garçom, já
de cabelos brancos, a carrega de lá pra cá, desvia do cliente bêbado que tenta
chegar ao banheiro, entre giros e passos rápidos, desafia a lei da gravidade.
No Bar Mignon,
“cachorro quente desde 1925”, uma dificuldade a mais: o movimento do Calçadão e
seus vendedores ambulantes atravessa as mesas. Mas os chopes chegam aos
clientes, com os devidos 3 dedos de espuma. O atendimento também varia conforme
o cliente, que pode até não ter sempre razão, mas está sempre certo. Enquanto o
sujeito de terno só quer comer o mais rápido possível enquanto mexe
freneticamente no celular, talvez a figura solitária do outro canto queira
contar de um certo pé na bunda.
Quando ele
passa mais perto, descubro seu segredo para não perder o compasso: baixinho,
ele canta uma música do Jorge Ben.
(Vino , Bar Mignon. 09/10/13)
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