terça-feira, 15 de outubro de 2013

Segue o baile


Do outro lado do balcão, a louça é lavada continuamente, as bebidas e os pratos são preparados. Desse, os assuntos variam de mesa pra mesa. O garçom, elo de comunicação entre um lado e outro, passeia com maestria conforme o apetite da clientela, sem perder o ritmo. Não, é como se dançasse. Talvez por isso que, entre eles, chamem o espaço de “salão”. A discrição de não interromper uma conversa, por mais convidativo que seja o pedido, requer sensibilidade. 
Melhor matar o tempo com uma piada entre as cozinheiras. Na impossibilidade de tirar aquela, do sorriso bonito, para dançar, a badeja é a companhia perfeita. E o garçom, já de cabelos brancos, a carrega de lá pra cá, desvia do cliente bêbado que tenta chegar ao banheiro, entre giros e passos rápidos, desafia a lei da gravidade.
No Bar Mignon, “cachorro quente desde 1925”, uma dificuldade a mais: o movimento do Calçadão e seus vendedores ambulantes atravessa as mesas. Mas os chopes chegam aos clientes, com os devidos 3 dedos de espuma. O atendimento também varia conforme o cliente, que pode até não ter sempre razão, mas está sempre certo. Enquanto o sujeito de terno só quer comer o mais rápido possível enquanto mexe freneticamente no celular, talvez a figura solitária do outro canto queira contar de um certo pé na bunda.
Quando ele passa mais perto, descubro seu segredo para não perder o compasso: baixinho, ele canta uma música do Jorge Ben.

(Vino , Bar Mignon. 09/10/13)

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