segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Lugares Comuns


Os seres reunidos em tabletes de madeira.
Jogam no ar, sons emitidos, verbetes do cotidiano,
em geral roto, esdrúxulo, comum.
Seus parcos alimentos, vorazes, satisfazem-nos, momentâneamente.
Seus rostos, únicos, peculiares, confundem-se com as iguarias indefinidas, com seus assuntos, zumbidos inaudíveis.
Os movimentos autômatos demonstram, o quanto há...lugares comuns, num rito de alimentar-se, de um sábado qualquer.

(Joaquim Lima, Mikado. 19/10/13)

Restaurante Mikado


Talheres trincam. Sobem e descem vagarosamente. Pratos fartos procuram um repouso sobre a mesa. Sábado, sol, calor, dia atípico na cidade. Criaturas borbulham ideias. Conversas se misturam tornando-se uma só. Minha mente vaga em nada foca. Engrenagens travadas que necessitam de uma boa lubrificada ou, de uma boa dormida. E por hoje é só.

(Caroline Lemes, Mikado. 19/10/13)

sábado, 2 de novembro de 2013

Um amigo no Mikado


– Vamos almoçar no Mikado?
– O que tem lá?
– Comida oriental, tipo vegetariana...
– Não sou bicho pra comer mato!
– Mas, no Mikado também tem peixe e às vezes frango, empanados no gengibre. Que tal?
– Uiii! Gengibre?! Tô fora!
Contrariado com a ideia do restaurante, meu amigo acabou aceitando o convite para o almoço, para não perder a amizade.
Foi para o Mikado, na dúvida se lá perderia o estômago.
...
A comida do Mikado é uma mistura de paladares diversificados. O cardápio variado é tradicionalmente o mesmo há mais de uma década, ou melhor, duas! ( conforme me informaram depois de concluir o almoço e já no final desta crônica).
É fato que a ideia de uma comida mais natural, VEGETARIANA, não agrada a todos, inclusive ao meu amigo, que cauteloso, resolveu começar pela salada. Afinal, alface e tomate já eram velhos conhecidos e o que não conhecia, podia passar sem.
– Mas e o tempero? Cadê o tempero? Procurou.
– Põe shoyo com gengibre que fica bom. Sugeri.
– Gengibre, ah gengibre...você está querendo me matar? Cadê o vinagrete, o azeite, o sal... Não tem comida pra gente normal?
Vendo que a coisa ia longe, deixei que meu amigo com o ajuste de sabores, afinal a vida é um constante ajuste de sabores, e fui procurar uma mesa.
Sentei-me junto às violetas na janela do segundo piso, como invariavelmente faço desde que conheci o Mikado. De lá pode-se avistar toda a quadra da rua São Francisco, onde fica o restaurante.
O amigo sentou-se em seguida. Deglutiu a salada, com shoyo mesmo, SEM gengibre e, sob protestos, aceitou arriscar-se num missoshiro.
– Missoshiro? O que é isto? Por acaso eles cozinham japonês aqui?
Algo estranho aconteceu quando meu amigo ingeriu o primeiro tofú do seu missoshiro: O monte Fuji, do quadro da parede à nossa frente, começou a derreter.
– Olha lá! Eu vi! Escorreu uma gota no canto. Tá derretendo! Que diabos botaram dentro deste misso sei lá o que tiro? Tem alguma coisa neste queijo aguado que está me fazendo ver coisas...
A esta altura, o restaurante lotado, parou e em peso, caiu na gargalhada. Todos voltaram os olhares para o Monte Fuji e, é claro, para o meu amigo.
– Olhe, olhe! Vi mais uma gota correr. Insistia ele.
No olhar do meu amigo, o próprio monte Fuji estava bem ali, à nossa frente, derretendo sob o verão quase tropical de Curitiba.
Misterioso é que, para espanto geral, a ilustração vertia mesmo água pelos cantos.
Seria de fato o efeito do tofú no missoshiro?
Perguntamos ao Cassio Shimizu, que estava na mesa ao lado e, nem do alto da sua ancestralidade oriental ele soube explicar o fenômeno.
Até o seu Kenji e a dona Mishiko, donos do Mikado, sairam de seus tradicionais postos, no caixa e na cozinha do restaurante para ver o que estava acontecendo.
– Ah... então é isto? Disse seu Kenji com uma calma zen.
– Marido, precisa chamar logo o encanador, né? Senão no próximo inverno não teremos mais Monte Fuji nesta parede, hi, hi, hi...

Nota: Descobri que o restaurante Mikado significa “porta sublime” e é uma homenagem ao Imperador do Japão. O restaurante tem a idade do meu filho. Fui muitas vezes com ele na infância e sempre que posso passo por lá para recompor minhas energias, com uma comida sempre viçosa, saborosa e quentinha, feita com a mesma qualidade. O Mikado é um daqueles lugares que a gente se sente em casa) 


(Cláudia Gutierrez Santana, Mikado. 19/10/13)

Aniversário do Vinícius, onze e meia da manhã


Hoje seria aniversário do Vinícius de Moraes, o boêmio notório, diplomata e outros etcéteras famosos. Combinei com um amigo de comemorar como o próprio Poetinha faria: com muita bebida e festa desmedida. No entanto, o começo do dia acontece num almoço em um restaurante que justifica a fama de oferecer opções saudáveis de comida.
Assim como sabemos que vivemos através de paradoxos mais ou menos relevantes, sabemos também que "uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor", e em matéria de cerveja gelada o Nakarocha, 100 metros para cima do Mikado na rua São Francisco, centro histórico de Curitiba, nunca decepciona. Uma garrafa de 600ml, ou long neck de adulto em outras palavras, dá o tom do encontro com amigos que, como eu, também devem ter festado na noite anterior, e também pensado que 11h30 de sábado é muito cedo para qualquer coisa. Mas seria pouco nobre sofrer com este drama, o de acordar "cedo" no sábado. Melhor sofrer com a ideia, quase piada, de que a comida daqui é boa demais para ser tão saudável.
Hoje, ainda, contamos com a companhia de duas moças que usarão este encontro para fins acadêmicos. Elas escrevem mais que a gente, fotografam mais que a gente, pensam mais e, talvez, melhor que a gente, mas comem menos que a gente, o que causa estranheza, já que estamos num local de excelência da alimentação. Este fato constitui um outro paradoxo, suponho, mas é só isso mesmo o que fazemos nessa vida, neste restaurante ou em qualquer outro lugar: supomos. Pelo menos é o que acho.

(Marco Antonio Santos, Mikado. 19/10/13)