As tigelas vermelhas continuamente cheias com o
missoshiru dão ideia do movimento em seu auge, na fila do buffet um tanto
diferente. Crianças, idosos, famílias, casais. Uns já satisfeitos, outros
querem mais. O público também varia.
Um monte Fuji acompanhado de letras garrafais JAPAN
denuncia a ação do tempo, desbotando num canto da parede. De quando em quando
um funcionário percorre as mesas com olhar clínico, em busca de problemas pra
resolver. Alguém lhe pergunta, afinal:
– Qual o significado do
nome “Mikado”?
Talheres famintos e
burburinho contínuo tomam conta da atmosfera do restaurante. A cena parece de
um filme japonês, mas o clima zen que a decoração poderia sugerir se dilui na
pluralidade das pessoas.
No andar debaixo, a
situação se complementa. Uma cliente reclama porque o chá verde acaba sempre na
vez dela. Com disciplina e calma orientais, alguém a atende, retira os pratos
das mesas vazias. No caixa, uma funcionária acerta as contas. Um gato dourado
de plástico acena com a pata continuamente.
– Como se chama esse gato,
mesmo? – arrisco a pergunta.
Ela demora um pouco pra
entender, e preciso repetir as palavras mais de perto, mais alto. Diante de seu
sorriso, que qualquer idioma compreende, nem tento explicar a confusão
seguinte, e acabo “perdido na tradução”. Só ali me dou conta de que ela não
fala um português fluente, e recebo a curiosa resposta carregada de sotaque:
– Chama sorte, chama
dinheiro...
(Vino, Mikado. 19/10/13)
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