quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Maneki Neko


As tigelas vermelhas continuamente cheias com o missoshiru dão ideia do movimento em seu auge, na fila do buffet um tanto diferente. Crianças, idosos, famílias, casais. Uns já satisfeitos, outros querem mais. O público também varia.
Um monte Fuji acompanhado de letras garrafais JAPAN denuncia a ação do tempo, desbotando num canto da parede. De quando em quando um funcionário percorre as mesas com olhar clínico, em busca de problemas pra resolver. Alguém lhe pergunta, afinal:
– Qual o significado do nome “Mikado”?
Talheres famintos e burburinho contínuo tomam conta da atmosfera do restaurante. A cena parece de um filme japonês, mas o clima zen que a decoração poderia sugerir se dilui na pluralidade das pessoas.
No andar debaixo, a situação se complementa. Uma cliente reclama porque o chá verde acaba sempre na vez dela. Com disciplina e calma orientais, alguém a atende, retira os pratos das mesas vazias. No caixa, uma funcionária acerta as contas. Um gato dourado de plástico acena com a pata continuamente.
– Como se chama esse gato, mesmo? – arrisco a pergunta.
Ela demora um pouco pra entender, e preciso repetir as palavras mais de perto, mais alto. Diante de seu sorriso, que qualquer idioma compreende, nem tento explicar a confusão seguinte, e acabo “perdido na tradução”. Só ali me dou conta de que ela não fala um português fluente, e recebo a curiosa resposta carregada de sotaque:
– Chama sorte, chama dinheiro...

(Vino, Mikado. 19/10/13)

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