A noite estava linda, e os olhos daqueles
que passavam na frenética Rua XV pareciam brilhar de um jeito incomum. Tomava
um Chopp num bar com meu amigo. Ele parecia feliz, até que sua caneta caiu. O
amigo desesperou. Embrenhou-se numa busca desenfreada pelas pedras do chão que luziam sob a luz
de neon. Apalpava com cuidado as deformidades terrosas daquele chão. Esquecera
os óculos em casa, o que tornava ainda mais difícil sua missão. Nada de caneta.
De repente
viu-se no meio da rua explorando as solas dos sapatos dos transeuntes.
Continuava tateando o chão enquanto passavam apressadamente com suas
preocupações e aflições. Deve ter recebido de quatro a sete chutes ao todo, mas
ele não se importou. Esqueceu-se da caneta. Aos poucos estava gostando da ideia
de andar daquela forma, sem ter que enfrentar os rostos das pessoas. Via os pés
das moças, os sapatos dos executivos e os tênis esfarrapados dos mendigos. Apaixonara-se pelos pés.
Percebeu que
não precisava mais andar como haviam lhe ensinado. Voltou aos tempos de
criança. Redescobriu sua inocência fazendo-se pequeno.
No dia
seguinte acordou e começou a engatinhar novamente. Veio o segundo, o terceiro e
o quarto dia e não parou mais de andar daquela forma. Redescobriu sua
humanidade andando como um macaco.
(Gustavo
Ramos , Bar Mignon. 09/10/13)
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