quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Pessoas engarrafadas


Pessoas, pessoas , pessoas. 
Pessoas passam e nem todas são Pessoa.
Pessoas buscam a liberdade. 
E, daí divide-se a vida em duas metades, uma que pesa mais que a outra que alivia.
A primeira, é gasta para engarrafar-se de coisas.
A segunda, para tentar desengarrafar-se antes que a última gota entre pelo gargalo e... bau, bau! A vida acabe de vez.
Ah, o Pessoa...Soube bem se desengarrafar nas letras garrafais de sua poesia.
Já as pessoas, engarrafam-se, engenhosamente, em invólucros metálicos, hermeticamente fechados, chamados de carros. 
Os carros engarrafam.
Fico a me imaginar, desengarrando minhas letras: “Navegar é preciso, viver...nem é preciso”!
Desdesejo este engarrafar metálico que faz perder a alma de si mesma.
Alma asfixia em vidros hermeticamente fechados.
Nada de garrafas que precisam de sinais de alerta para localizr pessoas em seus próprios desertos. Faróis, ilhados em meio ao pixe endurecido.
Cheguei aqui, hoje, dentro de uma destas garrafas e começo a tirar a rolha que aprisiona a minha alma voadora.
Chego quase tarde, mas ainda é cedo para o fim da segunda metade. 
Há tempo.
Ainda é cedo. 
Falta um oitavo de tempo para o fim deste dia. 
É pouco.
É muito.
Há tempo sufuciente para beber uma Malzebier requentada e comer uma batata frita fria onde o cachorro, suspenso por um triângulo luminoso, já não late mais.
Esvazio a garrafa. 
Fica o vazio.
É...a vida em g
arrafas pode ser mesmo um copo vazio, abandonado na mesa da noite na rua XV.

(Cláudia Gutierrez , Bar Mignon. 09/10/13)

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